CARLA SANTANA

Carla Santana foi a nossa primeira artista residente. Com vocação para ser pioneira de novos projetos artísticos, Carla, além de artista, foi parceira na construção da Cariboa. Sua residência iniciou por Marrocos onde, acompanhada pela curadora Manuela Moog, pode conhecer alguns dos principais aparelhos culturais da cidade de Marrakech. Depois, seguiu em viagem solo pelo deserto e cidades históricas do pais para desvendar paisagens e novos materiais. Em Portugal, foram feitas digressões pelo Algarve e Alentejo, onde a artista pôde conhecer mais sobre as paisagens e tradições lusitanas e suas tecnologias da terra. A residência culmina na exposição Enquanto Descansa Carrega Pedra, no espaço cultural Casa do Jardim da Estrela, redigo pela Câmara Municipal de Lisboa. As obras criadas ao longo da residência, assim como obras pregressas trazidas do Brasil, estão disponíveis para venda. Conheça mais sobre a trajetória da Carla Santana ao clica na bio e confira seus trabalhos abaixo.

Mulher com cabelos de dreadlocks, usando óculos de arma transparente, camiseta branca e acessórios delicados, posando diante de uma estrutura de madeira e vidro.
  • Vive e trabalha no Rio de Janeiro.

    O trabalho de Carla Santana atravessa seu próprio corpo também como corpo social, pondo em vista as camadas históricas, materiais e culturais que a constituem. Ao entender a terra em suas diferentes camadas materiais e sensíveis, a artista organiza composições permeadas pelas noções de casa, abrigo e espaço comunal. Nesse sentido, a matéria torna-se um espaço de investigação tátil do pensamento. Ao ocupar o espaço performático, Santana afirma seu corpo como dispositivo fundamental de expressividade e relação para práticas de alteridade com os territórios que articula em suas pesquisas.

    Entre suas exposições individuais estão morada, alimento e autoteoria, Quadra, São Paulo, Brasil (2023); Poros e acúmulos, Carpintaria, Rio de Janeiro, Brasil (2022) e Vou ao redor de mim, Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, Niterói, Brasil (2019). Participou também das coletivas A conspiração dos ícones, Carpintaria, Rio de Janeiro, Brasil (2024); Uma história guanabara, Instituto Inclusartiz, Rio de Janeiro, Brasil (2024); Natureza lúcida, Instituto MECA, Niterói, Brasil (2024); Emoção de lidar, Quadra, São Paulo, Brasil (2023); Pequenos formatos, Auroras, São Paulo, Brasil (2022) e Engraved into the body, Tanya Bonakdar, Nova York, EUA/ Carpintaria, Rio de Janeiro, Brasil (2021). Santana integra a coleção da Pinacoteca com a  série tudo que se vê no caminho, São Paulo, Brasil (2023).  

  • Imagina poder sair da sua casa e caminhar para qualquer lugar do mundo. Um só continente, um só oceano. Sem fronteiras físicas ou ficcionais que pudessem impedir o seu ir e vir.  Este não é um sonho utópico, mas a realidade de um passado longínquo. O período chamado Pangeia ocorreu há cerca de 250 milhões de anos, um tempo tão vasto que desafia a compreensão humana. No entanto, é na terra que encontramos vestígios e testemunhamos a passagem desse tempo — gradual, singular e perene.

    É sobre este elemento primordial que a artista Carla Santana se debruça, a fim de descobrir as múltiplas camadas, sensíveis e simbólicas, que a terra resguarda. Em seu trabalho, os materiais terrosos são simultaneamente ponto de partida e lugar de chegada, tornando o deslocamento um fator imprescindível. Contudo, este deslocamento não se manifesta apenas como prática geográfica, mas, sobretudo, como experiência de corpo e vivência.

    A Residência Artística Cariboa proporcionou à Carla Santana a oportunidade de articular uma conexão entre três continentes e de aprofundar sua pesquisa. A artista dedicou-se tanto ao aspecto matérico do trabalho — na descoberta e coleta de novos materiais orgânicos — quanto à perspectiva cultural que cada paisagem abriga. Ao longo de três meses, Santana percorreu diferentes regiões de Portugal e Marrocos com uma escuta ativa e um olhar apurado. Do deserto Africano às praias do Algarve, dos acampamentos nômades às herdades alentejanas, da arquitetura terracota de Marraquexe aos coloridos azulejos das fachadas lisboetas. Em um trânsito constante, as fronteiras entre trabalho e lazer, prática artística e ócio são propositalmente borradas, permitindo o desabrochar de novas descobertas. 

    A exposição Enquanto Descansa Carrega Pedraapresentao resultado dessa experiência. Pela sua poética, Carla Santana nos convida a refletir sobre a passagem do tempo e a passagem dos seres pela terra. Em Marrocos, a artista somou à sua coleção uma série de pigmentos vegetais, até então ainda não investigados. Combinando-os aos geopigmentos trazidos na bagagem do Brasil, a artista criou em Portugal uma nova série de pinturas e esculturas que surge dessa articulação entre três continentes. O resultado são obras que operam como uma Pangeia reconectada, onde a geodiversidade dessas regiões se une pelo gesto artístico, nos permitindo vivenciar aqui e agora a riqueza acumulada ao longo de mil milhões de anos.


    Manuela Moog
    (curadora)